Há cerca de 20 anos que, no mundo do futebol, se ouve falar de uma dicotomia que irá perdurar para as próximas décadas: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
Se sobre o português poucas palavras há a acrescentar acerca do seu trabalho, há quem diga que Leo é um poço de talento que poucos conseguem alcançar. E isso é cada vez mais visível neste Mundial 2022, o último de Messi, de 35 anos.
Da La Masia para o Mundo
Leo Messi despontou desde cedo no FC Barcelona e poucos foram aqueles que não acreditaram no poderio da “La Pulga”. Apesar da sua baixa estatura, Messi logrou em fazer-se um dos maiores jogadores de todos os tempos, assumindo o seu lugar na equipa principal dos “culés”.
Tal como Cristiano Ronaldo, o seu primeiro Mundial foi em 2006, na Alemanha, onde partilhou balneário com o seu atual treinador, Lionel Scaloni, e respetivo adjunto, o saudoso “Pablito” Aimar.
Daí, foi permanecendo sempre no plantel de uma eterna favorita Argentina, adotando cada vez mais um papel fundamental na formação “Albiceleste”, mas nunca logrando o objetivo final, a conquista de um Mundial, caindo nos quartos de final do Mundial de 2006 e de 2010 frente à mesma seleção, a Alemanha.
Do desaire do Mundial de 2014 à esperança no Mundial 2022
Em 2014, no Brasil, tudo parecia correr de feição a Messi e companhia: venceram as três partidas da fase de grupos, ultrapassaram a Suíça nos oitavos de final e a Bélgica na eliminatória seguinte.
A meia-final foi disputada frente aos Países Baixos, um adversário que apenas bateram nas grandes penalidades, com grande mérito para o guarda-redes, Romero, que defendeu por duas vezes dos pontapés de 11 metros.
O pesadelo ocorreria no Maracanã e tinha como nome Mario Gotze. Depois de 113 minutos, o médio alemão dominou de peito e, já em queda, meteu a bola no fundo da baliza de Romero. O desalento, após tantas oportunidades desperdiçadas, foi notório. Messi, considerado o melhor jogador desse mesmo Mundial, voltaria a tentar uma última vez colocar a Argentina nas bocas do Mundo.
Agora, no Mundial 2022, Lionel Messi chegou novamente à final da maior competição de seleções, já não está no Barcelona, tem 35 anos e esta é a última oportunidade – já assumida – para voltar a colocar o troféu do Mundial nas mãos dos argentinos, praticamente 30 anos depois da última vez que conseguiram esse feito.
A surpreendente derrota frente à Arábia Saudita fez correr muita tinta, mas Leo pareceu ser indiferente a isso. Pouco a pouco, os argentinos foram fazendo o seu caminho, vencendo México e Polónia com o mesmo resultado (2-0). No “mata-mata”, Austrália e Países Baixos não conseguiram parar a fúria “Albiceleste” (apesar do jogo frente aos europeus ter sido um verdadeiro susto – e um dos melhores deste Mundial – para a seleção sul-americana). Já a Croácia mostrou não ter argumentos para o verdadeiro festival de Messi.
As Portas do Olimpo abriram para um grande do futebol
Faltava um troféu, o de campeão Mundial. Depois de vários desaires, foi sob a batuta de Scaloni que Messi acabou por ser feliz e retribuir todo o carinho dos argentinos que o idolatram.
Imperial ao levar a Argentina à grande final, “La Pulga” acabou por marcar em todas as partidas da fase a eliminar, e o maior jogo da sua vida não foi exceção. Abriu o marcador para o primeiro golo, desfez a linha de meio-campo, dado azo a um contra-ataque rapidíssimo no segundo e fez ainda o terceiro, naquele que foi o coroar de um excelente Mundial.
Não foi surpreendente então que o prémio de melhor jogador do torneio tivesse sido atribuído a Lionel Messi. Mais do que fazer jus às grandes exibições, foi o premiar de uma brilhante carreira, naquele que terá sido o último “tango” de Messi num Mundial.
Teremos saudades do seu deambular e, apesar de a velocidade já não ser o que era, os passes e a visão para desbloquear um jogo mantêm-se, fazendo dele um jogador mais maduro e capaz de jogar para a equipa que se forma: Enzo Fernández, Mac Allister e Julián Alvarez foram seguidores que “beberam” da sabedoria de Messi como ninguém.
Não nos restam muitos mais anos para ver um dos astros do futebol mundial a jogar, mas felizes daqueles que puderam assistir à “rivalidade” Messi-Ronaldo. Sem um, decerto que o outro não seria o que foi. Maradona e Eusébio estarão, claro, orgulhosos, porque o seu testemunho foi bem entregue.