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Futebol

Um amor chamado seleção – Entrevista a Hélder Pereira

Hélder Pereira é boavisteiro de gema, no entanto foi em Barcelona que se estabeleceu em 2006. Viveu a emoção do Euro 2004 pelas experiências dos adeptos que visitavam Portugal e quis repercutir um pouco dessa emoção além-fronteiras. Vamos conhecer um português que já conheceu os quatro cantos do mundo a cantar “A Portuguesa”.

A paixão pelo Futebol

Como surgiu esta paixão pelo futebol?

A minha paixão pelo futebol não sei bem quando surgiu, mas de certeza que foi quando era muito pequenino. Eu ia ao Bessa, sou boavisteiro. Também jogava com os meus amigos. Acho que é comum qualquer miúdo gostar de futebol.

Há diferenças para ti entre apoiar a Seleção Nacional e o teu clube, o Boavista?

Sou exatamente igual a apoiar o Boavista e a Seleção Nacional, é quase como perguntares se gosto mais da mãe ou do pai (risos). Como um não compete com o outro, eu sofro de igual forma quando apoio o Boavista e a Seleção.

És um adepto facilmente reconhecível por todos, por causa de um equipamento especial. Podes contar a história da camisola do Boavista?

Tudo começou no Euro 2012. Já tinha ido ver jogos de Portugal antes, mas, em 2012, o Boavista estava na segunda divisão (o Boavista subiu apenas em 2014/15) e então levei essa camisola ao jogo Portugal x Dinamarca, em que vencemos por 3-2.

Ainda fui ver Portugal a Belfast com a camisola do Boavista, em 2013, naquele jogo em que o Ronaldo fez pela primeira vez um hat-trick pela seleção portuguesa.

Por acaso apareci no Facebook do Boavista, com a camisola vestida, e utilizaram-na para parabenizar Portugal. Para mim foi incrível, senti-me parte de algo.

Hélder num dos jogos de Portugal com a camisola do Boavista e o cachecol dos Lusitanos

A partir daí, comecei a levar sempre a camisola do Boavista. O que é certo é que Portugal nunca perdeu desde o momento em que comecei a assistir aos jogos com aquela camisola.

Achas que te deu sorte?

Claro que é uma superstição, mas a verdade é que desde que fui ver os jogos de Portugal com a camisola do Boavista nunca perdemos.

Hélder Pereira na final-four da Liga das Nações que Portugal venceu

Se pudesses descrever o teu amor pela seleção, como o farias?

Eu não sou nenhum poeta (risos). Mas não é mais do que um amor como aquele que qualquer pessoa tem pelos seus hobbies. Tens pessoas que sobem o Evereste, outros que fazem imensas maratonas. Cada um corre pelo que gosta. Se eu não tivesse o meu grupo de amigos, se calhar não seria assim. Tem a ver com as circunstâncias. Não sou o único que o faz e não o faço sozinho.

O facto de viveres em Barcelona há tanto tempo faz com que sintas um maior apego à Seleção?

Sim, bastante. Mas também acontece com o Boavista. Vim para aqui em 2006 e nunca dei valor ao facto de ir ao Bessa com os meus amigos como dou agora. Quando o Boavista foi despromovido, em 2008, foi quando fiquei mais fanático, e passou-se o mesmo com Portugal. Sempre que vou ver Portugal fora é algo de muito especial.

De Mundial em Mundial

Lembras-te do primeiro jogo que viste pela Seleção Nacional?

Admito que não me lembro, mas sei qual foi porque tenho o bilhete guardado. Tinha 13 anos e o jogo foi no Estádio das Antas, era um Portugal x Suíça. Portugal ganhou essa partida, mas tenho apenas uma vaga ideia de lá ter estado.

E agora, nesta altura em que tens ido de forma mais assídua, lembras-te do primeiro jogo?

Lembro. Foi o Portugal x Angola, em Colónia, em 2006.

A tua aventura, ao contrário do que se pensa, não começou no Euro 2004…

Vivi a emoção do Euro 2004 no Porto e achava incrível. Lembro-me de estar na ribeira [do Porto] e adorei conhecer pessoas de outros países que estavam a ter essa experiência e quis viver este espírito.

O que te levou a ir assim para a Alemanha?

Foi a vontade de ter a experiência de que falei. Em 2006, que coincidiu com o ano em que vim viver para Barcelona.

Quem gosta de futebol, também quer estar presente nestes momentos importantes. Eu não tinha nada programado, só tirei alguns dias de férias para ir à aventura, e decidi ir para Colónia para ver o jogo, mas só com o bilhete de avião, sem entrada para o jogo.

Graças a um despiste de um americano que me ia vender o bilhete, que pensava que estava a ser assaltado, mas afinal era só o amigo a pedir para se despachar, ele deixou-me com os bilhetes e com o dinheiro na mão. Acabei por não pagar para ver esse jogo. Sentámo-nos lado a lado e depois acabámos por partilhar a experiência.

Arranjei um hotel para dormir na primeira noite por 50 euros, o que na altura era muito caro. Então acabei por dormir algumas noites na estação de comboios ao pé de algumas pessoas que conhecia, tapado com a bandeira de Portugal e com o cachecol a fazer de almofada.

Para mim foi incrível, porque estava o Dimas, a mulher do Deco. Todos os dias em que estive na Alemanha tinha uma história diferente, e isso marcou-me. Fiquei com pena de ter perdido o contacto das pessoas que conheci.

Lembras-te do primeiro momento em que ouviste tocar o hino nacional fora de portas?

Sim. Lembro-me muito bem, até. Eu estava eufórico, não estava a acreditar que ia ver Portugal. Entrei no estádio e, apesar de estar com muita vontade de ir à casa de banho, cantei o hino de Portugal na entrada para as bancadas. Só depois disso é que consegui ir à casa de banho e lá me sentei.

Ouvimos falar também de uma história com Jorge Sampaio…

Depois do jogo fomos ao McDonald’s de Colónia. Estávamos sentados à porta e passa o Jorge Sampaio com a família. Os portugueses que estavam lá começaram a cantar “Jorge Sampaio, allez”. Acabámos por tirar uma foto e guardei essa recordação. Recordei esse bom momento quando ele faleceu.

Helder e Jorge Sampaio no Mundial de 2006
Hélder com Jorge Sampaio

O ano de 2012 também foi muito especial para ti. Podes explicar porquê?

Eu viajei sozinho para o sul da Polónia e fui de autocarro para Lviv, na Ucrânia, onde já conheci alguns portugueses.

Eles iam ficar a fazer “couchsurfing” e só iam ver um jogo, o Portugal x Alemanha, enquanto eu ia ver mais um. Acabei por ir para lá [casa onde ficaram] depois do primeiro jogo e fiquei amigo do meu anfitrião.

Em Karkiv, acabei por conhecer mais pessoas, e até acabámos por criar uma página, o “Eu Apoio Portugal”.

Quase te sentiste o Tom Cruise… podes explicar essa associação?

Em Kharkiv nós andávamos com a cara pintada, andávamos com a bandeira como se fosse uma capa de super-herói e muita gente pedia para tirar uma foto connosco. Sentimo-nos quase como uma celebridade, mas sabemos que era pela forma como nós estávamos vestidos.

Em 2013 foste a Baku apoiar a seleção, sozinho. Como foi essa experiência?

Sim, é verdade. Era uma cidade que eu tinha curiosidade para conhecer. Acabei por me arrepender da forma como fiz a viagem. Ia ficar três dias lá e voltar no dia a seguir ao jogo, mas o aeroporto de Kiev estava fechado por causa de um nevão. Deram-me outro voo, com escala em Viena. Acabei por ficar menos dias em Baku, mas aproveitei para conhecer Viena.

Qual foi o país que nunca pensaste visitar e que, graças à seleção, o fizeste?

Talvez não país, mas a cidade que me mais me surpreendeu foi Kazan, onde estive na Liga das Confederações. A cidade era incrível, as pessoas eram muito amáveis.

Relativamente a países, talvez o Azerbaijão e a Irlanda do Norte.

Conta-nos como foi ver o hat-trick do Ronaldo que nos levou ao Brasil…

Esse foi, sem dúvida, depois do golo do Éder, o jogo que mais me marcou.  Há três jogos que guardo, por tudo o que representam: a final do Euro 2016, este jogo frente à Suécia, e também o Dinamarca – Portugal, de 2012, em Lviv, com o golo do Varela no último minuto.

Viajei com dois amigos de Barcelona, dos Lusitanos [ndr: os Lusitanos são uma equipa amadora de Barcelona, composta maioritariamente por portugueses, onde Hélder joga], e acabei por me juntar com um amigo do grupo de 2012. Foi o primeiro jogo com a Boneca Xibeca que levei para o Brasil.

Essa viagem ao Brasil também foi especial, onde essa boneca te acompanhou. Podes contar como foi?

Eu tinha organizado o Mundial de forma a começar em Brasília e ficar até ao fim. No entanto, Portugal foi eliminado e eu acabei por ficar pelo Brasil. Fui de avião até ao São Carlos, perto de São Paulo, ter com um amigo. Daí fui até ao Rio de Janeiro ter com outro amigo.

E a Boneca Xibeca?

Um dos meus amigos levou a boneca para a Suécia e eu pedi-a emprestada para levar para o Brasil. É a Xibeca, que é o nome de uma cerveja aqui em Espanha. Em São Paulo acabei por levar a boneca Xibeca para um bar. Depois apareceram uns amigos do meu amigo que eram polícias e brincaram com o facto de eu estar com a boneca. Não tem a ver com o Mundial em si, no entanto são histórias que eu só passei porque fui lá ver o Mundial, essa era a raiz desta brincadeira.

A famosa boneca Xibeca

Mundial 2018: A cultura russa é um pouco diferente da nossa. Há peripécias que posas contar acerca dessa viagem?

Tenho duas aventuras: uma antes de Sochi e outra depois de Sochi. No entanto, na fronteira, na zona da Abecásia,  perdemos algum tempo, porque estavam a ser muito rígidos. Depois chegámos à fronteira com a Rússia  uma hora antes do jogo começar.

Para ver o jogo tínhamos umas credenciais e a minha tinha um número errado, pela troca de um número do meu passaporte. Mesmo assim ainda conseguimos estar lá, toda a gente me reconheceu por causa da camisola do Boavista. Foi tudo demasiado rápido, no empate a 3 contra a Espanha.

Depois de Sochi para Moscovo, a viagem de comboio durava perto de 24 horas, e foi muito divertida. Conhecemos várias pessoas de diferentes partes do Mundo e acabámos por ficar a beber vodka com todos, a conhecer diferentes histórias. Foi uma aventura excelente.

A viagem de comboio de Sochi a Moscovo

Tens noção de quantos quilómetros já fizeste por Portugal?

Não tenho noção de quantos quilómetros já fiz para apoiar a seleção, mas o Catar vai ser o vigésimo país onde estive. Comecei na Alemanha, Inglaterra, Suíça, Dinamarca, Ucrânia, Azerbaijão, Irlanda do Norte, Suécia, Brasil, Sérvia, França, Rússia, Andorra, Itália, Polónia, Luxemburgo, Hungria, República da Irlanda, República Checa e agora o Catar. Também já acompanhei jogos de Portugal no nosso país, na final-four da Liga das Nações, e em Espanha.

O Euro 2016

O Euro 2016 foi especial para todos os portugueses, mas tu pudeste sentir a emoção ao vivo. Consegues-nos explicar o ambiente que se vivia em França?

Neste Europeu eu já levava tudo muito mais organizado. Como os voos de Barcelona para qualquer um dos locais eram baratos, eu acabava sempre por ir e voltar no mesmo dia. Apenas faltei ao jogo dos oitavos de final, frente à Croácia.

Para o Portugal – Polónia ia com a camisola polaca e com a bandeira portuguesa, por respeito à minha mulher, que é polaca. Também tirei muitas fotos com polacos e acabou por ser engraçado.

Hélder na Final do Euro 2016

O ambiente não era de festa, porque Portugal estava sempre a empatar e acabávamos sempre por ficar meio na dúvida. A meia-final frente ao País de Gales foi espetacular. Eles já estavam muito felizes por chegar àquela fase então era uma festa. Houve gente que veio do Canadá e da Nova Zelândia para ver o País de Gales.

Como foram os dias até à final?

A minha ideia era ficar em França até Portugal ser eliminado e depois ir ter com a minha família à Polónia. O meu filho tinha poucos meses – já nasceu campeão (risos) – então ia ter com eles. Acabou por ser tudo vivido com muita expectativa, porque fui ficando ali até à final.

Sentiste alguma animosidade por parte dos franceses antes da final? Como era ser o adepto da equipa que ia jogar a final frente à anfitriã?

Havia ali uma certa tensão no ar. Havia muito orgulho, mas muita ansiedade no ar antes da final. Também nos “picavam”, e a comunidade portuguesa estava muito expectante. 

Como foi ouvir o hino na final?

Foi arrepiante. Estava na zona onde estavam todos os portugueses e colocaram aquela bandeira gigante. Cantámos o hino e, a nível de apoio, os portugueses estavam a cantar mais do que os franceses. Acabou por ser incrível.

Lembras-te do que sentiste quando o Cristiano Ronaldo caiu ao chão?

Fez-me lembrar o filme “Fuga para a vitória”. Por acaso até é com franceses contra os nazis. E foi o herói improvável que salvou o dia. Foi exatamente o que depois aconteceu.

Como foi festejar o golo do Éder?

Esse golo foi uma explosão. Eu gritei golo, caí, abracei amigos, desconhecidos… estávamos todos abraçados. Tinha um amigo a dizer que ainda faltavam 10 minutos. Mas eu já estava com lágrimas nos olhos.

O Mundial 2022 no Catar

Sentes-te ansioso por ir ao Catar?

Estou muito expectante. Não tenho muita confiança, na verdade. O que é certo é que também não tinha em 2016 e correu bem. O futebol tem tantas variantes que acabamos por nunca saber.  Mas vai ser tudo muito estranho, tanto para os jogadores, como também para os adeptos.

Hélder já está no Catar para apoiar a Seleção Nacional

O que estás à espera lá?

Estou com as expectativas, no sentido de viver o Mundial, um pouco em baixo. Vai ser tudo disputado numa só cidade. É muito esquisito. Vou porque quando se gosta de futebol, gosta-se tanto de estar num jogo de distrital, como estar nos grandes momentos. É onde se faz história e onde levamos algumas coisas para a vida.

Sentes-te confiante para este Mundial? Até onde acreditas que Portugal vai chegar?

Não estou tão crente como em 2018, estava mesmo confiante. Mas tocou-nos o Uruguai e fomos eliminados. No entanto perdemos esse Mundial quando empatámos na fase de grupos e ficámos em segundo lugar. Acredito que cheguemos à final, mas vamos ver.

Há alguma outra seleção que gostasses muito de ver?

Vou estar presente no jogo inaugural, Catar x Equador, e também no Japão x Espanha. Mas vou de propósito por Portugal. Mas gostar muito de ver, só Portugal na final! (risos)

Por fim, tens ainda um hobby que nem todos conhecem, o Bode Artwork, em que associas momentos do futebol a filmes ou séries, que surgiu no confinamento. Se pudesses fazer uma dessas associações para o Mundial do Catar, qual seria?

Stranger Things (risos). Por acaso não pensei nisso. Às vezes surgem-me ideias para juntar filmes a situações de futebol, algumas coisas míticas ou que ficam na memória.

Mas o desenho que foi mais partilhado foi o Edgar Davids, como MiB, e é a foto que ele tem atualmente no seu perfil de Instagram.

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